sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Passado


Passado

     - Isso me dói de mais sabe... – Olhou para o vítreo ao seu lado ao relembrar-se de tudo o que havia acontecido anteriormente – Ela me feriu muito, e esse não é o tipo de ferida que se pode curar com palavras, é o tipo de ferida que apenas cicatriza com o tempo, que apenas os dias podem curar, ou ao menos amenizar – Eros apenas olhou-o, sem ter o que dizer – Ela mostrou-se tão arrependida, mas não é a primeira vez que isso acontece. Quantas vezes ela me disse que me amava e que em breve terminaria com ele por mim? E quantas vezes eu acreditei nessas promessas? E quantas vezes ela me decepcionou? Quantas vezes eu ouvi essas palavras que mesmo parecendo serem as mais sinceras do mundo nunca surtiram efeito? – Thomas segurou suas próprias mãos enquanto olhava-as – Eu... Sinceramente não sei o que farei.
     - Mas você ainda gosta dela né? – Interrogou Eros com um tom de conformidade.
     - O que você acha? – Por um instante um pequeno silêncio instalou-se entre os dois – É difícil tentar esconder sabe, não adianta dizer palavras que possam soar livres dessas correntes quando no fundo eu sei que nenhuma delas faz sentido. Só eu, somente eu sei a dor que eu senti, e a dor que eu sinto quando me lembro. Lembra que eu coloquei a sua mão sobre o meu peito outro dia? – Eros apenas assentiu – Você deve se lembrar de que os batimentos do meu coração estavam extremamente acelerados – Eros assentiu novamente – A Prih havia acabado de vir falar comigo. Disse que a Gih queria me dizer algumas coisas depois. Pra você pode até parecer besteira, mas o simples fato de ela me olhar nos olhos e eu saber que ela quer me dizer alguma coisa já mexe comigo. Não sei te dizer o porquê, mas por mais que eu tente não consigo fazer com que isso mude. Ás vezes os dias parecem já não fazerem mais sentido para mim, quando eu penso que estou bem, um simples verso de uma canção pode me derrubar... Ás vezes, mesmo rodeado por uma multidão de pessoas que amo me sinto só, é como se aquelas pessoas não estivessem ali, como se elas anteriormente estivessem, mas em algum momento tiveram que partir e eu fiquei, como se o tempo houvesse parado somente para mim, mas as lembranças não se vão, ao contrário, elas parecem fazer questão de voltar, elas voltam e rondam os meus olhos como um pesadelo que não me permite despertar.
     - Mas... Você pensa em voltar?
     - Eu não sei. Eu não vou, e não posso te dizer que não vou, pois quanto mais eu digo que não, mais esse passado se aproxima de mim, como se ele se alimentasse do meu medo, desse meu medo de sofrer novamente, de sentir o coração se dilacerar outra vez. Porém não vou lhe dizer que sim, pois não sei ao certo se é isso o que eu realmente quero, por mais que lembrar os bons momentos me faça pensar nessa hipótese e isso me faça bem. Ainda existe muita coisa obscura nessa história, e eu não quero me envolver nessa neblina novamente. Primeiramente preciso saber a total verdade, e só então eu poderei saber o que realmente me fará bem...
     Novamente um silêncio apossou-se dos dois indivíduos. Logo Eros partiu, e Thomas permaneceu ali, imerso em suas lembranças que pareciam dançar conforme os versos da canção que ele ouvia.
“[...] Mas dói de mais eu ter que ver que eu não fui nada pra você!
Passado, passado
Você diz que foi bem fácil me esquecer,
Que o laço nasceu para ser cortado
Mas eu vou discordar...
Memórias... Não somem assim... [...] ”
     Ao fim da canção, as palavras de Gih estavam novamente ali presentes. Elas rondavam os pensamentos de Thomas como se esperassem apenas por uma brecha para que pudessem se infiltrar na mente do garoto. 

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Inevitável



Inevitável

    - Por que tudo isso teve que acontecer? Por que tudo simplesmente não continuou como estava? Era tudo tão bom, você não sabe o quanto era reconfortante poder sentir seu cheiro perto de mim, poder entrelaçar meus dedos aos seus com enorme paz no coração, sem ao menos precisar se preocupar com nada nem ninguém. Era tão bom poder ouvir e re-ouvir a música que marcou o começo desta linda e trágica história... “[...] I want to give you everything I’ll give you my all, because you gave me… You gave your lips a gentle kiss, the medicine to cure my pain […]”. Nem eu realmente sei explicar a sensação que hoje sinto ao lembrar, é reconfortante e ao mesmo tempo dilacerador – Thomas mordeu os lábios e apertou as fotos que segurava nas mãos – Você me fez tão bem. Talvez, aqueles tenham sido os dias mais felizes da minha vida... – Thomas colocou a foto que até então admirava por baixo da que agora possuía a toda atenção de seus olhos - Dói só de lembrar que tudo era tão perfeito e em alguns instantes o meu mundo desmoronou, e eu pude ver a sua mascara cair junto com aquela tempestade que eu sempre acreditei que um dia fosse ter fim e que lutei para um dia vencer – Ele recolocou as fotos na pequena caixa de madeira e agarrou um pequeno boneco em mãos - É inevitável dizer que as lembranças ainda pairam sobre mim... É inevitável dizer que guardei o presente que me deu em nosso primeiro encontro... É inevitável dizer que jamais esquecerei as palavras que descreveu em tinta nas cartas que me entregou, inclusive as ruins... É inevitável dizer... Que o seu cheiro ainda está em mim... É inevitável lhe dizer... – Por um segundo Thomas hesitou e apenas fechou os olhos ao sentir o rosto ferver com o escorrer de uma lágrima.