Passado
- Isso me dói de mais sabe... – Olhou para o vítreo ao seu lado ao relembrar-se de tudo o que havia acontecido anteriormente – Ela me feriu muito, e esse não é o tipo de ferida que se pode curar com palavras, é o tipo de ferida que apenas cicatriza com o tempo, que apenas os dias podem curar, ou ao menos amenizar – Eros apenas olhou-o, sem ter o que dizer – Ela mostrou-se tão arrependida, mas não é a primeira vez que isso acontece. Quantas vezes ela me disse que me amava e que em breve terminaria com ele por mim? E quantas vezes eu acreditei nessas promessas? E quantas vezes ela me decepcionou? Quantas vezes eu ouvi essas palavras que mesmo parecendo serem as mais sinceras do mundo nunca surtiram efeito? – Thomas segurou suas próprias mãos enquanto olhava-as – Eu... Sinceramente não sei o que farei.
- Mas você ainda gosta dela né? – Interrogou Eros com um tom de conformidade.
- O que você acha? – Por um instante um pequeno silêncio instalou-se entre os dois – É difícil tentar esconder sabe, não adianta dizer palavras que possam soar livres dessas correntes quando no fundo eu sei que nenhuma delas faz sentido. Só eu, somente eu sei a dor que eu senti, e a dor que eu sinto quando me lembro. Lembra que eu coloquei a sua mão sobre o meu peito outro dia? – Eros apenas assentiu – Você deve se lembrar de que os batimentos do meu coração estavam extremamente acelerados – Eros assentiu novamente – A Prih havia acabado de vir falar comigo. Disse que a Gih queria me dizer algumas coisas depois. Pra você pode até parecer besteira, mas o simples fato de ela me olhar nos olhos e eu saber que ela quer me dizer alguma coisa já mexe comigo. Não sei te dizer o porquê, mas por mais que eu tente não consigo fazer com que isso mude. Ás vezes os dias parecem já não fazerem mais sentido para mim, quando eu penso que estou bem, um simples verso de uma canção pode me derrubar... Ás vezes, mesmo rodeado por uma multidão de pessoas que amo me sinto só, é como se aquelas pessoas não estivessem ali, como se elas anteriormente estivessem, mas em algum momento tiveram que partir e eu fiquei, como se o tempo houvesse parado somente para mim, mas as lembranças não se vão, ao contrário, elas parecem fazer questão de voltar, elas voltam e rondam os meus olhos como um pesadelo que não me permite despertar.
- Mas... Você pensa em voltar?
- Eu não sei. Eu não vou, e não posso te dizer que não vou, pois quanto mais eu digo que não, mais esse passado se aproxima de mim, como se ele se alimentasse do meu medo, desse meu medo de sofrer novamente, de sentir o coração se dilacerar outra vez. Porém não vou lhe dizer que sim, pois não sei ao certo se é isso o que eu realmente quero, por mais que lembrar os bons momentos me faça pensar nessa hipótese e isso me faça bem. Ainda existe muita coisa obscura nessa história, e eu não quero me envolver nessa neblina novamente. Primeiramente preciso saber a total verdade, e só então eu poderei saber o que realmente me fará bem...
Novamente um silêncio apossou-se dos dois indivíduos. Logo Eros partiu, e Thomas permaneceu ali, imerso em suas lembranças que pareciam dançar conforme os versos da canção que ele ouvia.
“[...] Mas dói de mais eu ter que ver que eu não fui nada pra você!
Passado, passado
Você diz que foi bem fácil me esquecer,
Que o laço nasceu para ser cortado
Mas eu vou discordar...
Memórias... Não somem assim... [...] ”
Ao fim da canção, as palavras de Gih estavam novamente ali presentes. Elas rondavam os pensamentos de Thomas como se esperassem apenas por uma brecha para que pudessem se infiltrar na mente do garoto.