Bittersweet
- Eu não sei...
- Eu também não. Estou um pouco confusa ainda... – Gih abraçou a si mesma com o caderno entre os braços.
- Mas deveríamos saber. Eu vim aqui hoje para que pudéssemos resolver essa história de uma vez por todas – Thomas fitou-a aparentemente sem expressão alguma.
- Muita coisa mudou para mim. Mas nada em relação a você – Ela o olhou nos olhos – Eu só não tenho certeza...
O vento soprava entre os dois, e por um instante houve um silêncio. Ambos não conseguiram olharem-se nos olhos.
- Eu sei que é difícil, principalmente pra mim, mas eu não posso evitar sair na chuva com medo de ficar gripado, entende? – Thomas respirou fundo ao falar, abaixou a cabeça como se repensasse cada palavra antes de pronunciá-las – Eu nunca vou saber se fiz a escolha certa se não tentar. Pode ser que a melhor escolha seja seguir em frente e deixar tudo exatamente como está, mas existe a possibilidade de que eu seja mais feliz ao teu lado – Momentaneamente ele segurou as próprias mãos.
- Eu sei disso, porém o meu medo é outro... – Ela o olhou nos olhos deixando transparecer aquilo que não havia dito.
- O teu medo é que talvez pra você já não seja mais a mesma coisa?
- Exatamente.
- Mas você já pensou que isso também pode acontecer comigo? Eu posso não sentir mais a mesma coisa quando tocar seus lábios outra vez, mas eu só vou saber quando tocá-los, mesmo que eu tenha que fazer isso para perceber que a vida é melhor sem você – Thomas foi firme com as palavras.
- Entendo – Gih caminhou para perto de Thomas – Mas vou lhe pedir uma coisa que você não irá gostar – Neste momento ele apenas a olhou – Me dá mais uma semana?
- Eu esperei um ano, não sei se posso esperar mais uma semana... – A voz de Thomas soou falha – O ruim disso tudo não é não poder resolver isso aqui e agora, mas sim ficar mais uma semana entre devaneios e sentimentos que não sei se posso confrontar.
- Eu sei que é difícil pra você, mas o meu medo não é me magoar, o meu medo é magoar você novamente...
- Quanto a isso pode ficar tranquila, talvez nada possa superar o que já sofri.
A chuva caía lentamente sobre os dois no compasso em que caminhavam pela rua. Thomas parou e encostou-se em um muro.
- Então nos vemos daqui uma semana...
- Infelizmente.
- FELIZMENTE. Pois você irá me ver novamente – Gih sorriu ao dizer.
- Certas coisas nunca mudam não é? – Thomas sorriu irônico.
As gotas da chuva caiam sobre o rosto de Gih. Thomas levou a mão até o rosto dela, passando o dedo sobre uma gota que escorria próximo aos olhos da mesma.
- Não precisa chorar – Thomas brincou.
- Não estou chorando. Eu não tenho mais lágrimas, todas elas secaram.
- As minhas ficaram vermelhas – Disse Thomas ao morder o lábio inferior.
- É. Eu sei. Elas viraram sangue...
- Pois é.
- Eu tenho que ir – Gih parou ao lado de Thomas.
- Ta bom.
- Você não vai me dar um beijo no rosto?
- Eu quero um abraço – Ele exigiu.
Ela colocou o caderno entre os joelhos e o abraçou forte. Thomas fechou os olhos e apenas sentiu seus corpos se tocarem lentamente. Um silêncio permaneceu ali, e Gih não partiu. Eles apenas se olharam. Repentinamente ela o surpreendeu ao se aproximar e fazer com que seus lábios se tocassem por um longo tempo. Thomas não teve reação naquele momento. Apenas aquela sensação desconhecida invadir seu corpo.
- Tchau – Gih deu dois passos para trás.
- Você não vai embora assim – Thomas a puxou pelo braço.
- Vou s... – Ela foi interrompida por um beijo. Desta vez, um de verdade. E naquele momento as sensações foram mais fortes, um misto de saudade e arrependimento, felicidade e angústia, fervor e vazio. Thomas não pôde dizer se aquilo realmente fora o certo a se fazer, mas de tudo vale a tentativa até que a verdade se mostre presente.
“Como vai você? Faz tanto tempo que nós não nos falamos,
Será que você teria um tempo pra mim? Pra me dizer quais são os seus planos, tudo o que você fez no decorrer desses anos, eu quero saber de tudo o que aconteceu até hoje sem mim...
Como é bom te ver, poder sentar e relembrar todos os nossos momentos e saber que mesmo tendo passado todo esse tempo ainda vive bem melhor do que relembrar, pois deixei seus olhos brilhando quando eu te falei que ainda pensava em você como sempre pensei, mas não dá... Depois de tudo isso fingir que sou só seu amigo, porque a cada momento que passa eu imagino como seria a sua vida comigo... Mas eu sei que foi bom conversar com você, mas eu sinto que errei. Desprezo todo o sentimento que eu mesmo jurei deixar morrer pra não me machucar, e talvez daqui alguns anos eu te encontre outra vez e te diga que o sentimento ainda existe como sempre existiu...”