quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

O Valor de Cada Um



O Valor de Cada Um

     Um grupo de adolescentes saltava em direção aos cliques de uma máquina que em instantes armazenava aqueles últimos momentos de uma longa história. Era o penúltimo dia de aula, todos pareciam estar muito animados. No momento em que uma das fotografias iria ser tirada, Thomas ouviu seu nome ecoar pelo lugar. Duan caminhava até ele.
     - Thomas!
     Após colocar os pés no chão, Thomas caminhou até Duan, que o abraçou pronunciando algumas palavras em seu ouvido.
     - A Gih quer falar com você – Thomas pôde sentir os batimentos de seu coração pararem ao mesmo tempo em que aceleravam, mas como isso era possível? – Vai lá cara, respira fundo – Completou Duan.
     Gih estava sentada em um banco que ficava próximo a entrada, ela estava parada, como se seus olhos não se movessem mais, Thomas olhou-a ao sentir suas mãos tremerem. “Eu devo agir como prometi a mim mesmo que agiria quando esta hora chegasse” Pensou ao caminhar até ela.
     - Oi – Thomas sentou-se ao lado dela.
     - Oi, tudo bem? – Ela perguntou fitando-o.
     - Tudo.
     - Fazia um tempo que agente não se falava né?
     - É.
     - Então... – Thomas mal conseguia olhá-la no rosto – Eu te chamei aqui por que... Eu queria te pedir desculpas – Ela olhou enquanto segurava as próprias mãos.
     - Você não tem que me pedir desculpas – Thomas pareceu um tanto frio ao tirar aquelas palavras da boca.
     - Tenho sim. É porque tem coisas que você não sabe ainda...
     - Hum – Thomas demonstrou um sorriso irônico – Na verdade eu nunca soube né? – Pela primeira vez, ele a olhou nos olhos – Nunca de tudo.
     - Eu me arrependi de tudo o que eu te fiz – Ela parou de olhá-lo e por um instante direcionou seu rosto para frente – Por isso eu te peço desculpas.
     - Eu não tenho que te desculpar por nada.
     - E por que você acha que eu não devo pedir-lhe desculpas?
     - Quando você fez, achou que estava certa, então não tem por que me pedir desculpas.
     - Mas eu sabia que não estava certo.
     - Mas mesmo assim você fez.
     - Eu só queria que você me perdoasse. É difícil pra mim estar aqui te dizendo isso sabia? – Ela voltou a olhá-lo.
     - Também é difícil pra mim estar aqui.
     - Eu sei que você deve me odiar e que pra você não é fácil...
     - Eu não te odeio – Thomas olhou para o imenso nada que se pusera em sua frente, as coisas ao seu redor pareciam ter desaparecido em poucos instantes – Eu não tenho porque te odiar. O que eu sinto por você é só uma grande decepção – Por um segundo Thomas a olhou e novamente voltou seu olhar para o nada – Você foi uma pessoa a quem eu dei muito valor, mas que acabou se tornando algo que eu não esperava que você fosse. Simplesmente... Você me decepcionou muito. Só isso.
     - Eu só queria que você me desculpasse. Porque pra mim é muito difícil viver com isso, me deparar com isso todos os dias...
     - Tá. Eu já disse que não tenho que te desculpar, mas se você insiste nisso. Ok – Thomas continuou a olhá-la.
     - Obrigada... Era só isso mesmo que eu tinha pra lhe dizer... – Os olhos de Gih pareciam atônitos, como se estivessem presos em um circulo que a impedisse de prosseguir com suas palavras.
     - Tchau – Thomas apenas levantou-se e caminhou de volta ao encontro de seus amigos.
    - Tchau...

     Thomas havia terminado de falar com uma amiga pelo celular, e subia as escadas onde estavam, Gih, Duan e um outro garoto. Eles pareciam estar conversando sobre ele.
     - [...] Mas não vale a pena... Tem que dar valor... – Thomas ouvir a voz de Gih ao seu lado, mas nem ao menos olhou para os lados, apenas prosseguiu seu caminhou.
     - Eu dou valor pro Thomas! – Disse Duan aos risos enquanto colocava sua mão sobre o ombro do mesmo – Ele é gatão!
     Thomas apenas olhou para trás. “Pena que nem todo mundo pense assim” Ele pensou, mas guardou para si, preferiu não dizer nada. Ele parecia sentir os olhos de Gih em suas costas, como se ela tivesse se queimado com as palavras de Duan. Mas ele apenas seguiu.

Através do Espelho


Através do Espelho

 - A vida pode ser tão mesquinha, ao mesmo tempo em que pessoas trocam juras de amor, as mesmas podem mostrar-se falsas o bastante a ponto de aparentarem ser outras pessoas ao verem seus interesses serem colocados em jogo. É muito fácil dizer ‘eu te amo’ ao compasso de uma simples ‘atração física’ que pode ser quebrada no instante em que outra pessoa toma a frente de seus olhos – Thomas estava sentado sobre a areia com os pés sendo banhados pela água do mar. Ao seu lado havia uma garota, incrivelmente parecida com ele, era como se fosse ele mesmo, só que em um corpo feminino.
     - Muitas pessoas se enganam cegamente ao acreditarem nesse falso amor que as possui – Ela tinha o mesmo olhar que Thomas, o mesmo sorriso tímido e ao mesmo tempo descontraído, as mesmas sobrancelhas e os mesmos cabelos escorridos pelo rosto.
     - Difícil é viver imerso em falsas juras de amor eterno e arder nas chamas de um amor inexistente. Amar e saber que este sentimento não é recíproco. Ter que saber que tudo o que você faz não é o bastante para manter-se vivo, saber que tudo o que diz não basta para provar o quanto o coração queima e sofre com o desenrolar dos acontecimentos – Uma corrente de ar passou por eles, os cabelos de Thomas remexiam-se incessantemente, assim como o da garota ao seu lado.
     Era fim da tarde, a praia estava totalmente vazia, e a noite começava a estender o seu manto negro pelo céu. Algumas estrelas já punham-se ao lado da Lua, ainda clara de mais para ser vista sem ao menos um pouco de esforço.  Thomas levantou-se, e estendeu um dos braços fitando a garota ao seu lado. No instante seguinte ela agarrou sua mão, e juntos caminharam lentamente, passo por passo pelas águas do mar. As pequenas ondas insistiam em bater em suas pernas.
     Thomas vestia um short jeans que talvez outrora tivesse sido uma calça, uma camiseta branca de manga cumprida e gola em formato V, e um boné preto na cabeça. Sua companheira vestia igualmente um pequeno short jeans e uma camiseta branca.
     - Apesar de tudo... – Thomas começou a dizer ao parar olhando nos olhos de sua semelhante – Viver este sentimento pode ser revitalizante, afinal, tudo neste mundo é dual – Sorriu.
     - A vida consiste apenas em encontrar uma meta para seguir...
     - Caminhar com seus próprios passos sobre uma linha tênue entre os dois caminhos traçados pela sociedade...
     - Encontrar alguém com quem partilhar os momentos de tristeza e felicidade...
     - Trabalhar em harmonia com aqueles que desejam traçar um caminho semelhante...
     - E ajudá-los no que for possível – Eles pronunciavam as palavras em completa sincronia.
     - Não arrepender-se dos passos errados...
     - E vencer os medos que nascem no coração...
     - E substituí-lo por AMOR...
     Eles permitiram que seus dedos entrelaçassem-se uns nos outros, seus olhos mantinham-se com um brilho eminentemente recíproco no momento em que fez-se uma forte luz.

     Lentamente Thomas retirou sua mão do interior do espelho que estava estendido na parede de seu quarto. Olhou para suas próprias mãos como se nunca as tivesse visto. Nem ele mesmo acreditava que a pouco havia encontrado consigo mesmo através do espelho.

sábado, 4 de dezembro de 2010

Please Forgive Me



Please Forgive Me


     Por que eu estou assim? Por que me sinto assim?... Talvez seja essa culpa que me consome por dentro, essa dor que eu mesmo criei em meu peito no momento em que errei ao não deixar você partir...
     Me perdoa por impedi-la de partir, perdoa por fazer-te sentir assim, perdoa por ser tão insistente, perdoa por ser tão bobo.
     Algum dia talvez eu aprenda o que é perdoar, esquecer a dor que um dia alguém me causou, a sentar e ouvir o que essas pessoas têm a me dizer, por mais ferido e magoado que esteja, por mais difícil que isso possa ser. Talvez, aceitar possa ser uma saída para acabar de vez com essa dor, e com todo esse escárnio que vive dentro de mim. Talvez um dia eu possa reencontrá-la sem que esse sentimento que hoje assola o meu coração esteja presente entre nós, talvez eu possa olhar em seus olhos sem que as chamas do ódio se acendam, talvez minhas mãos parem de tremer, talvez meus lábios parem de tremular com ânsia de dizer o que já não consigo mais esconder, talvez eu consiga aquecer o meu peito ao invés de sofrer com o frio que o rasga em demasia.
     Eu nunca quis que isso terminasse assim, eu nunca quis ter que dizer isto, eu nunca pude imaginar viver assim...
     Desculpa.

     Thomas fechou o livro onde havia exposto em tinta o que não conseguia – Ou não podia – dizer com palavras.