quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Através do Espelho


Através do Espelho

 - A vida pode ser tão mesquinha, ao mesmo tempo em que pessoas trocam juras de amor, as mesmas podem mostrar-se falsas o bastante a ponto de aparentarem ser outras pessoas ao verem seus interesses serem colocados em jogo. É muito fácil dizer ‘eu te amo’ ao compasso de uma simples ‘atração física’ que pode ser quebrada no instante em que outra pessoa toma a frente de seus olhos – Thomas estava sentado sobre a areia com os pés sendo banhados pela água do mar. Ao seu lado havia uma garota, incrivelmente parecida com ele, era como se fosse ele mesmo, só que em um corpo feminino.
     - Muitas pessoas se enganam cegamente ao acreditarem nesse falso amor que as possui – Ela tinha o mesmo olhar que Thomas, o mesmo sorriso tímido e ao mesmo tempo descontraído, as mesmas sobrancelhas e os mesmos cabelos escorridos pelo rosto.
     - Difícil é viver imerso em falsas juras de amor eterno e arder nas chamas de um amor inexistente. Amar e saber que este sentimento não é recíproco. Ter que saber que tudo o que você faz não é o bastante para manter-se vivo, saber que tudo o que diz não basta para provar o quanto o coração queima e sofre com o desenrolar dos acontecimentos – Uma corrente de ar passou por eles, os cabelos de Thomas remexiam-se incessantemente, assim como o da garota ao seu lado.
     Era fim da tarde, a praia estava totalmente vazia, e a noite começava a estender o seu manto negro pelo céu. Algumas estrelas já punham-se ao lado da Lua, ainda clara de mais para ser vista sem ao menos um pouco de esforço.  Thomas levantou-se, e estendeu um dos braços fitando a garota ao seu lado. No instante seguinte ela agarrou sua mão, e juntos caminharam lentamente, passo por passo pelas águas do mar. As pequenas ondas insistiam em bater em suas pernas.
     Thomas vestia um short jeans que talvez outrora tivesse sido uma calça, uma camiseta branca de manga cumprida e gola em formato V, e um boné preto na cabeça. Sua companheira vestia igualmente um pequeno short jeans e uma camiseta branca.
     - Apesar de tudo... – Thomas começou a dizer ao parar olhando nos olhos de sua semelhante – Viver este sentimento pode ser revitalizante, afinal, tudo neste mundo é dual – Sorriu.
     - A vida consiste apenas em encontrar uma meta para seguir...
     - Caminhar com seus próprios passos sobre uma linha tênue entre os dois caminhos traçados pela sociedade...
     - Encontrar alguém com quem partilhar os momentos de tristeza e felicidade...
     - Trabalhar em harmonia com aqueles que desejam traçar um caminho semelhante...
     - E ajudá-los no que for possível – Eles pronunciavam as palavras em completa sincronia.
     - Não arrepender-se dos passos errados...
     - E vencer os medos que nascem no coração...
     - E substituí-lo por AMOR...
     Eles permitiram que seus dedos entrelaçassem-se uns nos outros, seus olhos mantinham-se com um brilho eminentemente recíproco no momento em que fez-se uma forte luz.

     Lentamente Thomas retirou sua mão do interior do espelho que estava estendido na parede de seu quarto. Olhou para suas próprias mãos como se nunca as tivesse visto. Nem ele mesmo acreditava que a pouco havia encontrado consigo mesmo através do espelho.

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